sábado, 19 de dezembro de 2015

O nascimento de uma mãe


            Eu não era assim. Essas rugas, essas marcas, essa sabedoria, foi tudo fruto do tempo. Eu já fui como você, exatamente assim, alegre, desenvolta, inconsequente,sedenta de viver , faminta de ser, como qualquer adolescente normal. E eu também já errei, com todos os "erres" que um aprendizado necessita. Enganei-me, caí no conto do vigário e dei com os burros n’ água.
            Vivi paixões intensas, sempre ligadas no último volume, até que um dia a vida pausou. Eu estava grávida. Confesso que eu não queria e não tenho vergonha alguma em assumir que meu primeiro pensamento foi “vou tirar”. A lei não permitiu. Pensei em toda a vida que eu perdia naquele momento, as risadas que seriam abafadas pelo choro de uma criança que eu nem fazia ideia de como criar. Será que Deus não entendia?!
            À medida que o tempo passava eu sentia uma empatia maior por alguém que eu sequer conhecia. Um simples feto, um amor inexplicável. No final do oitavo mês de gestação levei o primeiro susto, quando pensei que te perderia percebi a real necessidade que já tinha de te ganhar, agradeci profundamente a Deus por não ter me entendido, mas compreendido minha ignorância de criança.
            Então, você com toda sua garra e força, lutou e finalmente chegou. O presente mais lindo dos céus. Os olhares impiedosos que imprimiam julgamentos à mais nova mãe solteira se tornavam nulos diante do brilho dos seus olhos ao me olhar , todos os maldizeres foram silenciados no momento que a palavra “mamãe” saiu da sua boca e ecoou no meu coração. O seu choro se tornou minha canção predileta. O que deveria ter sido meu maior erro tornou-se sem dúvida o melhor acerto de Deus, o pretérito imperfeito se conjugou mais-que-perfeito. Por você fiz-me mãe, me descobri mulher, você nasceu, e eu renasci, obrigada por não ter desistido de mim.

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